Certo dia conversando com um
amigo, ele me falou de um parente seu que estava completando 96 anos de idade.
Eu comentei como era felizarda uma pessoa assim, com saúde e lúcida com tanto
tempo de vida, e perguntei o que o aniversariante achava desta data. Para minha
surpresa, meu amigo revelou que ele disse ser terrível, pois a cada dia que
passava, sabia que estava perto o dia da partida, o dia em que deixaria de
viver, pois muito tempo já tinha vivido, e agora velho e cansado, lhe restava
apenas esperar a hora da morte, pois não esperava mais nada deste mundo.
Confesso que não tive opinião sobre
o que disse o velho homem, e fiquei me indagando onde estaria à verdade disso
tudo. Será que sua angústia é justa? Viver é um dissabor ao final? Ou será que
aquele homem estava errado? Sempre temos a inclinação em seguir a “sabedoria”
dos mais velhos, e demorei a discordar do que escutara, mas minhas convicções
foram mais fortes do que a sabedoria dos 96 anos de vida daquele homem
desesperado e infeliz. Sim, porque quem passa seus dias numa contagem regressiva,
na verdade já morreu para os sonhos que a vida nos oferta. Deve ser um penar
viver esperando a morte, sofrer a cada minuto gasto pela vida. Pobre homem!
Não sou melhor do que aquele
homem velho. Tenho de vez em quando, a sensação do tempo se esvair por entre
meus dias, sem que eu saboreie cada minuto de vida como deveria ser. Ou será
que aquele homem estava certo mesmo? Afinal, é sempre um lamento saber que não
se é eterno, que o doce da vida vai acabar um dia, e para ele, esse dia parece
mais próximo devido a sua idade.
Rendo-me ao otimismo! Triste é viver
para esperar a morte. Por mais que seja latente a sensação de tempo passando,
devemos buscar a alegria de viver, a beleza de cada dia como se fosse o único.
Aprender todo dia, ensinar sempre que possível, deixar sementes do que se crer
é se perpetuar, e viver. Cada dia é um presente ofertado para nós, cabe-nos
fazer o que achamos justo com ele. Podemos chorar porque ele passará depressa,
ou aproveitá-lo como podemos e sabemos “sem tempo de manteiga nos dentes” como
dizia Pessoa.
Hoje, mas do que o tempo
passando, tenho a certeza da beleza de cada dia a mim ofertado, e sei que devo
ser feliz pelo ontem, pelo hoje e pelo possível amanhã. Não devo esperar pela
morte, pois ela fatalmente virá. Celebrarei a vida enquanto ela estiver em mim,
sem angustia, sem tristeza, apenas buscando a sabedoria escondida em cada dia
vivido, sabedoria essa, que infelizmente não chegou para aquele pobre homem que
há 96 anos, vive esperando pela sua morte.
Daniel Porto
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