terça-feira, 22 de maio de 2012

Óculos de DEUS


Cheguei ao bar e escolhi a mesa de sempre, olhando para “o mar batendo nas pedras”. Cumprimentei o garçom que é um amigo de anos, pedi uma tônica, uma dose de rum e um petisco, e passei uns minutos colocando a fofoca em dia com ele. Depois, abri um livro que comprara no dia anterior junto doutros, e comecei a folheá-lo despretensiosamente enquanto esperava um amigo que marcara comigo para minutos depois, mas ele ligou pedindo desculpas, pois não poderia vir devido ao trabalho. Claro que não me chateei, e me detive ao início da leitura finalmente.
O final daquela tarde estava lindo, o sol se despedindo vigoroso; uma escuna pincelava o mar, marcando um passeio já tradicional àquela hora; os copistas passavam apressados, uns engraçados no modo de andar, outros enganando a si mesmos no passo lento que não queima nem a sola do tênis, imagine calorias; um homem com uma caixa de vender bombons, cigarros e demais “coisitas” pára e se senta no banco do calçadão, a organizar, com uma calma franciscana, aquele seu balcão ambulante, como se fosse a vitrine de uma grande loja, sempre a falar sozinho; um cachorro magro passa sossegado, como quem desfila numa passarela; um cliente do bar, já embriagado com quase uma garrafa de uísque, esbraveja ao celular com uma mulher, fazendo ameaças sobre o final do relacionamento dos dois, ora se levantando da cadeira, ora baixando o tom de voz, como se buscasse o amor daquela mulher, que pelo visto, queria abandoná-lo. E eu ali, lendo e observando o mundo daquele universo da Praia de Iracema, naquele final de tarde de sexta-feira.
O livro me surpreendeu. Pequenas crônicas suaves e saborosas. Combinavam com aquele clima bucólico de final de tarde, mas por um momento, me dei conta que estava fazendo parte daquele quadro de histórias paralelas ali, na P.I.(Praia de Iracema). Visto de longe, outro observador poderia concluir minha narrativa dizendo: e aquele homem sentado com um livro na mão, observava o mundo ao seu redor...
A vida é muito interessante quando paramos para observá-la, somos capazes de vislumbrar a realidade de cada ser vivo que passa por nós, as suas metas, os seus medos, os seus recalques e neuras; quando está feliz, ansioso, apreensivo. Até os pássaros se revelam diante da nossa concentração e observação.  Parece que quando olhamos o mundo com tempo para olhar, ele verdadeiramente se mostra, sem nuances, sem aparências. Mas o celular toca e é meu sócio falando sobre um processo a ser sanado no escritório. Dou algumas orientações, comento outras coisas de outros assuntos de trabalho, e desligo – pronto, já estou fora daquela sintonia de observação de poucos minutos dantes – parece que o mundo se escondeu novamente de mim, apenas me incluindo como uma peça sua, a fazer parte de todo o sistema mundano.
Estamos todos interligados, toda a humanidade perfaz um tênue e irrompível fio, que comunga com a natureza e tudo mais que existe na face da terra. Por poucos segundos de uma breve observação, estive com meus olhos abertos para esse mundo que vivemos e não percebemos. Poderia até sentir a angustia da humanidade, o sofrimento da natureza, a hecatombe de transformações que estamos vivendo, poderia ver tudo, todos, como se DEUS de forma fulgaz, efêmera, me emprestasse seus óculos. Mas agora aqui estou eu novamente, mergulhado na vida, neste mundo, mergulhado em mim.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

VIDA DE ARTISTA


Vida de Artista

A vida lançada sem medidas,
Em busca do sonho vital,
Necessário, apaixonante, visceral,
Sem certezas de chegadas e partidas.

Vida nômade conduzida pela alma.
Rostos novos, velhos temas, a mesma emoção,
Que vicia o tão marcado coração,
De amores, de lacunas, ânsia e calma.

São caminhos tão difíceis e penosos
Nessa busca, importante, emocionada.
Tem a felicidade por vezes encontrada,
Em efêmeros momentos prazerosos.

Assim o artista faz sua lida,
Na certeza das incertezas constantes,
Nas divinas, sublimes e pulsantes,
Emoções, de tudo que é a arte em sua vida.

domingo, 20 de maio de 2012

O VELHO



O VELHO

O jeito frágil e a pele fina do homem a me olhar...
Talvez queira uns trocados e não os dou,
Talvez seja um conhecido e eu não o reconheça.
Ou é apenas um homem a me olhar, afinal.
Mas por que me olha?
O que percebe que foge de mim?
Só agora vejo!
Sou eu a olhar-me de fora,
Sou eu a zelar por mim,
Vendo tudo que sou agora,
Mostrando tudo o que será de mim!