Ele,
a Menina, o Sol e a Lua
Ele tirou da bolsa uma caneta e
um bloco de papel, e começou a escrever sentado em frente ao quebra mar. As
ondas batiam nas pedras com força e costume, e o vento salgado deixava seu corpo
melado, grudento. O mar entrava pelo seu nariz, ampliando sua respiração e
trazendo também o som das ondas numa música cheia de bossa.
O mar é infinito (pensou ele),
mas o infinito é tudo que somente não podemos medir, e pra ele o mar era de
fato infinito. Registrava todas essas sensações no seu bloco de notas, e se
esforçava para rimar palavras e construir sentimentos a partir daquele momento
dele com o mar. O sol partia sem esperar que suas rimas nascessem e germinassem.
Já no ultimo momento, antes de partir, o astro rei ainda esperou o grande
momento de a poesia nascer, mas foi em vão, o bloco de notas continuava a
germinar observações e não poesia.
Por fim, quando já não tinha ele esperanças, e
recolhia a caneta e o bloco na sua bolsa, chega ao seu lado uma menina que
brincava com sua bicicleta no calçadão e lhe diz:
_ Você não viu como o sol ficou todo
enxerido esperando a lua chegar?
Ele olhou para o outro lado e viu
uma lua linda e vigorosa, com um amarelado que vinha dos raios do sol, e assim
percebeu a poesia daquele momento.
Toda criança nasce poeta. Ela tem
o olhar da poesia, e sabe que tudo e todos interagem numa só substância chamada
vida, por isso é que o poeta busca manter um olhar lúdico sobre o mundo, e
naquele momento Ele percebeu que não conseguiu escrever o poema, porque ele
estava de fato vivendo uma poesia, Ele, a Menina, o Sol e a Lua.
Daniel Porto