ANABOLIZANTES
EVOLUCIONAIS
Paro por um segundo, e vejo a
rotina: Carros passando, pessoas apressadas, olhares distantes. De repente uma
pessoa bate no vidro do carro pedindo esmola, abro o vidro e dou uns trocados,
ele olha e coloca no bolso sem agradecer, seguindo adiante. Uma moto passa
apressada manobrando com risco e confiança, enquanto passam um rodo sujo, no
vidro do carro da mulher à frente, mesmo ela dizendo irritada “não quero”.
Estamos todos inseridos na
loucura coletiva, não temos tempo para contemplação, meditação, para
raciocinar. Vivemos sem propósito, sem sentido, sem por quê.
O mundo está engolindo a
humanidade, ou será o contrário? Desde o mais profundo pensador, até o
analfabeto que sonha com um celular “smartphone”.
Somos um reflexo da locomotiva desenfreada, da rápida e frágil evolução do
século passado, que pegou o homem e acelerou sua transformação, como um
fisiculturista que morre com o fígado em frangalhos, depois de tomar muitos
anabolizantes. E é isso que está acontecendo. O bicho homem está recebendo
muitos “anabolizantes evolucionais”, que estão alterando de forma descontrolada
seus costumes, seus anseios, suas prioridades. Com isso, qualquer cientista político pode fazer projeções cataclísmicas desse processo singular, que
fatalmente levará a espécie humana ao extermínio ou ao recomeço.
Pena que nossa “evolução” é
diametralmente oposta a nossa capacidade de saber para onde evoluir. Viver é o
que afinal? Qual nosso propósito nisso tudo?O que é EVOLUÇÃO afinal?
Vivemos hoje somente para
consumir, é o propósito do capitalismo, que cria sonhos que não são nossos para
sonharmos, mas nem isso sabemos ao certo, pensamos que os sonhos são “nossos”.
Nada contra o capitalismo, pois é o sistema econômico natural da heterogênea
condição humana, mas não estamos preparados para tanto, estamos morrendo com
nosso próprio remédio, e isso se reflete nas relações humanas, nas relações
financeiras, nas relações com o meio ambiente, e por ai vai.
Morreremos todos, com a melhor
roupa de grife, com o melhor serviço funerário. Cremados no melhor crematório
da America Latina, com nossas cinzas conduzidas por um helicóptero de três
milhões de dólares, que espalhará tudo que nos restou no lindo mar poluído, de
nossa praia predileta, e nem assim saberemos que a felicidade esteve no sorriso
do filho, no abraço do amigo, na noite do amor amante, na conversa, na risada
tola, de todas as coisas tolas que resumem tudo o que realmente importa nas nossas
vidas.
Uma pena!
Daniel Farias Porto