terça-feira, 29 de novembro de 2011

COTIDIANO DE UM SONHO

Para melhor entender o texto abaixo: Viajei com minha família  ha uns dois anos para uma cidadezinha praiana, do pequeno litoral do Piauí, chamada Cajueiro da Praia, com não mais de 6 mil habitantes. A   maioria da população ,lida com pesca e pequenas criações. Lugar impar, um paraíso. Dentre os dias que passei por lá, por um momento parei e observei o modo de vida daquele povo.Eles não tem a nossa pressa, a nossa aceleração, pois tudo se resolve, e não convêm ficar se angustiando por qualquer coisa. 
Essa calma nós perdemos, pois vivemos numa roda viva que nos faz viver sem saber porque. 
Me imaginei então, saindo da loucura, que é viciante, para saborear a calma caiçara dos que realmente sabem viver.

Cotidiano de um Sonho

Eu te vi sentada no alpendre da casa velha, de caibros e linhas de carnaúba, com paredes grossas caiadas de verde. A imagem de Jesus nos olhava serenamente com seu coração exposto. A poeira fina do solo morto, impregnava minha roupa de linho. Meus dedos suavam na sandália de couro que tu compraras na feira de sábado.
Estava feliz meu amor, nossa vida era simples e bonita.
Aos domingos, íamos à missa das seis e às oito horas ouvíamos a chamada da missa das crianças, balançando-nos nas cadeiras de balanço, na calçada sombria e alta de nossa casa, vendo as crianças passando, apressadas e brincalhonas, sem se dar conta do que viviam.
Conversávamos um pouco com os conhecidos, lastimando a falta do inverno seguro e indagávamos sobre a guerra do outro lado do mundo.
O almoço era rústico e frugal, mas tinha um gosto de eternidade. Depois nos deitávamos na rede e, no balanço do vento, dormíamos até o rosto marcar do lençol.
À tarde, eu pegava a minha bicicleta e ia conversar com o compadre do armazém, e zombar dos bêbados conhecidos na pelada do campo de futebol, feito no leito seco do rio frade. Você fazia a sopa e “barria” o chão, cuidando da casa sem se dar conta.
 Noitinha, olhávamos as estrelas luzentes como um sol, e contávamos para os amigos nossa vida na metrópole, a loucura da falta de tempo, a corrida pelo dinheiro, a morte.
Hoje a morte está no cemitério no final da rua larga, perto da igreja. Sabemos onde fica e não tememos o trajeto, pois hoje o tempo passa leve, como a brisa que sopra em teus cabelos brancos e bonitos.
Vencemos o tempo, deixamos de correr atrás dele, hoje ele nos espera, no nosso passo lento da idade chegada, na voz frágil e trêmula, na pele fina e marcada; em nossos olhos azuis; azuis de tempo. Tempo.

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